Ao final de cada ano, preparamos uma mensagem do Neim/Ufba com nosso balanço do que passou e expectativas para o que virá. Este 2020, no entanto, nos deixa quase sem palavras. Foi um ano de muitas perdas e de muita dor.

Para as mulheres, foi um período particularmente difícil pela intensificação das tarefas de cuidado, em especial com os grupos de risco do covid-19 e sobretudo para as mulheres negras, indígenas e subalternizadas. Entre aquelas/es que puderam fazer o isolamento social, mesmo que parcial, também se verificou o acúmulo do trabalho doméstico e entre aquelas que têm crianças pequenas, houve a sobrecarga do acompanhamento do ensino remoto e da restrição de circulação durante a pandemia. A violência doméstica cresceu enquanto as políticas de enfrentamento diminuíram.

Ao mesmo tempo, a universidade pública e particularmente o campo de estudos de gênero seguiram sob ataque. Ataque que vem em primeiro lugar do próprio governo federal, com seu discurso contrário à ciência, materializado pelos cortes de verbas e de bolsas de pesquisa e pelo negacionismo diante da crise sanitária.

Sabemos que 2021 não tem indícios de melhora, pelo contrário. A crise econômica deverá piorar muito a condição de vida das camadas populares. Devem crescer os incentivos à destruição do meio ambiente. A reforma administrativa poderá atingir duramente o funcionalismo público. O projeto genocida em curso não dá sinais de arrefecimento. As perseguições e violências contra negros, mulheres e LGBTQIAs persistirão.

Seguiremos resistindo, e juntando nossas vozes às de tantas outras mulheres que não descansam em suas lutas contra as políticas fascistas e ultraneoliberais que ainda sustentam governos latino-americanos, e que também manifestam suas tentativas de destruição da universidade pública, gratuita de qualidade. Diante de todos os desafios, não nos curvamos frente às ameaças e, apesar da dor, escolhemos seguir com mais consciência e autocuidado, reivindicando o Bem Viver, como nos ensina a sabedoria ancestral feminina que nos orienta em nossos campos de luta.